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Tudo que você precisa saber sobre os BDRs

BDR, sigla de Brazilian Depositary Receipts, é um certificado de depósito de ação de uma empresa estrangeira negociado no Brasil. Dessa forma, o investidor brasileiro pode investir em empresas de outros países de um jeito simples e acessível.

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Para a maioria dos brasileiros, investimento pode ser um assunto complexo. Investir no exterior, então? Nem se fala! Muitos acreditam que toda a burocracia envolvida deixa quase inviável expor parte de seus recursos em outras moedas. Pode até parecer e, às vezes, ser mesmo muito difícil, mas existe uma opção que facilita todo esse processo. São os chamados BDRs, os Brazilian Depositary Receipts, que você vai conhecer neste artigo.

Há um tempo, os BDRs eram ativos disponíveis apenas para investidores qualificados. Ou seja, aqueles investidores que possuem mais de 1 milhão em ativos financeiros e declaram essa condição. Mas as coisas mudaram e agora eles estão disponíveis para todos os investidores que quiserem e tiverem o perfil para esse investimento.

Mas, afinal, o que são os BDRs?

Os BDRs são certificados que representam valores mobiliários emitidos por empresas estrangeiras, mas negociados na bolsa brasileira. Perceba, portanto, que ele não é uma ação propriamente dita.  Estes ativos, os BDRs, funcionam como uma espécie de fundo que compra as ações lá fora e emite os recibos aqui dentro, no Brasil. Na prática, os BDRs são como se fossem ações de empresas de outros países, mas que as negociações ocorrem na nossa bolsa. Assim, o investidor brasileiro pode ter acesso a empresas de diversos países sem precisar abrir uma conta no exterior. Além disso, sem se preocupar com câmbio, impostos e toda a burocracia e legislação internacional. Já pensou em investir em empresas como Apple, Google, Alibaba, Coca-Cola, entre muitas outras companhias de destaque mundial?

Estes ativos, então, são direitos representativos de valores mobiliários de empresas no exterior e negociados no Brasil por meio de instituições financeiras como corretoras e distribuidoras.

E como é criado um BDR?

Uma instituição depositária brasileira, autorizada pelo Banco Central e habilitada e supervisionada pela CVM, realiza a emissão dos BDRs. Essa instituição deve participar e organizar algumas etapas para que os BDRs sejam aceitos no mercado brasileiro, tais como estruturação do lançamento e obtenção do registro no programa BDRs. Esses ativos funcionam da seguinte forma: um custodiante no exterior compra e deposita as ações da empresa; em seguida, ele emite recibos atrelados às ações; finalmente, ele negocia os recibos de depósitos na B3, e não a ação em si.

É importante dizer que essas ações existem de fato lá fora e ficam depositadas e bloqueadas em uma instituição financeira e o custodiante faz a guarda delas. E para que todo esse sistema funcione, existe também uma instituição financeira que assegura essa estrutura, chamada de depositária, que é a responsável por emitir os BDRs no Brasil.

Em resumo: custodiante e depositário são instituições financeiras participantes do processo de emissão e negociação dos BDRs. Na prática, o processo para negociação de um BDR na B3 envolve um custodiante, uma instituição no país de origem da empresa estrangeira. Essa instituição é responsável por guardar e bloquear as ações que são utilizadas como lastro para os BDRs. Já o depositário, instituição localizada no Brasil, tem três responsabilidades principais: emitir os BDRs com base nas ações bloqueadas pelo custodiante, registrar a operação na CVM e distribuir os BDRs na B3. Essas duas instituições garantem que os BDRs sejam, realmente, lastreados nos valores mobiliários emitidos no exterior e que não haja um descasamento entre o saldo das ações no país de origem e o saldo dos BDRs no Brasil.

Quais tipos de BDRs existem?

Existem dois tipos principais de BDRs: os patrocinados e os não patrocinados. Eles se diferenciam pela forma como a instituição depositária traz tais BDRs para o mercado brasileiro, bem como o grau de envolvimento da empresa emissora das ações.

BDRs Patrocinados

Os BDRs patrocinados são aqueles em que a empresa estrangeira contrata uma instituição depositária para emitir os certificados no Brasil. Essa companhia que emite os valores mobiliários recebe o nome de empresa patrocinadora e é responsável pelos custos do programa. Ela também será responsável por divulgar, por meio de um representante legal no Brasil, o mesmo nível de informações que ela fornece no seu país de origem. Já os BDRs não patrocinados são aqueles em que a iniciativa parte da instituição depositária, sem vínculo com a empresa estrangeira.

Os BDRs Patrocinados Nível I não precisam do registro na CVM e só podem ser negociados em mercados de balcão não organizado. Além disso, o número de investidores que, de fato, podem comprar os papéis pode ser limitado. A instituição depositária tem o dever de replicar no Brasil todas as informações que a empresa emissora estiver obrigada a divulgar no país de origem, além de outras informações de interesse do investidor. As demonstrações financeiras devem seguir o mesmo padrão do seu país exige.

Os BDRs Patrocinados Nível II e III são semelhantes e, em ambos os casos, a empresa emissora das ações no exterior precisa obter registro na CVM. Não há necessidade dos BDRs integrarem um segmento específico e sua negociação pode ocorrer em bolsa ou balcão organizado. As companhias emissoras precisam seguir as mesmas regras de transparência e governança estabelecidas para as empresas brasileiras registradas junto à CVM. O que difere um nível do outro é que os BDRs de Nível II só podem ser alvo de ofertas públicas com esforços restritos, assim como os programas de Nível I. Já no caso dos BDRs de Nível III, as ofertas públicas com registro na CVM podem ser amplas.

BDRs Não Patrocinados

Os BDRs Não Patrocinados são sempre considerados de nível I. A maioria dos BDRs disponíveis na B3 são do tipo Não Patrocinados e o objetivo da instituição depositária ao criar um programa de BDR Não Patrocinado é oferecer mais opções de investimento ao público de investidores. Nesse caso, é ela, a instituição depositária, quem assume a responsabilidade por divulgar informações da empresa emissora.

Como negociar um BDR e quais os códigos de negociação

Para negociar esses ativos de forma fácil é só comprar e vender da mesma forma que faria com uma ação brasileira, direto no home broker ou por meio de assessores de investimento. Sabemos que quem investe em BDRs não passa a ser sócio da empresa como acontece com ações brasileiras, mas, mesmo assim, há a possibilidade de ganho de capital com a valorização dos ativos. Oa detentores de BDRs têm, ainda, direito aos dividendos daquelas empresas que fazem a distribuição no exterior, direto na conta da sua corretora de valores. É um mercado bastante acessível, pois o lote mínimo de negociação desses ativos é de uma unidade por operação.

Investidor negociando BDRs através do telefone

Os tickers dos BDRs, que são os códigos que identificam os recibos de ações de empresas estrangeiras negociados na B3, possuem quatro letras e dois números. As letras, normalmente, correspondem ao nome da empresa ou ao seu ticker original na bolsa estrangeira. Os números indicam o tipo do BDR e podem ser 32, 33, 34 ou 35. Por exemplo, o ticker da Amazon na B3 é AMZO34. O número 34 significa que se trata de um BDR não patrocinado nível I, que é o mais comum entre os disponíveis para pessoas físicas.

Acompanhe o desempenho dos BDRs

Caso queira acompanhar ou ter um benchmark (índice de referência) do desempenho dos BDRs, existe o índice BDRx. Esse é o índice que mede o desempenho médio dos BDRs na bolsa brasileira. Ele é o resultado de uma carteira teórica de ativos composta por diversos BDRs Não Patrocinados e é um índice de retorno total. Ou seja, ele considera não só as variações nos preços dos BDRs, mas também os proventos distribuídos pelas empresas. O objetivo desse índice é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos BDRs Não Patrocinados, autorizados à negociação na B3.

Gráfico representando o benchmark de BDRs

E se você não quer escolher apenas um BDR, pode diversificar seus investimentos com ETFs, já que um ETF é um fundo de investimento que segue algum índice da bolsa de valores e que tem vários ativos em sua composição. Então, os BDRs de ETFs são certificados que permitem ao investidor brasileiro acessar os ETFs internacionais com os maiores volumes de negociação no mundo. Existem vários BDRs de ETFs disponíveis na B3. Confira no site da B3.

Custos e tributação dos BDRs

Os custos envolvidos em uma operação com BDRs são semelhantes aos de uma operação com ações na B3. Pode haver taxa de corretagem e taxa de custódia, além dos emolumentos devidos à B3.

A tributação dos BDRs também é similar a tributação das ações e vai depender do tipo de negociação que você faz. Se você compra e vende os BDRs em dias diferentes, o chamado Swing Trade, você pagará 15% de Imposto de Renda sobre o lucro da operação. Se você compra e vende os BDRs no mesmo dia, realizando o chamado Day Trade, você pagará 20% de Imposto de Renda sobre o lucro da operação.

Ainda sobre a tributação, mas agora olhando para os dividendos dos BDRs, o investidor precisa recolher mensalmente o Imposto de Renda sobre eles (diferentemente das ações brasileiras, em que os dividendos são isentos de IR), por meio do chamado carnê-leão, com base na tabela progressiva mensal, que prevê alíquotas de zero a vinte e sete e meio porcento. Vale a pena frisar que só os rendimentos mensais superiores a R$ 1.903,98, que é o limite de isenção, sofrem tributação. No entanto, essa isenção não se aplica ao ganho de capital com a venda dos BDRs. E atenção, também, para essa informação: não há nenhum tipo de isenção para vendas abaixo de um determinado valor, como ocorre com as ações brasileiras. Não existe a isenção de vinte mil reais referente a cobrança de Imposto de Renda.

Vantagens e desvantagens de se investir em BDRs

Ao investir em BDRs os investidores podem perceber, como diversificar sua carteira, aproveitar oportunidades em outros mercados e setores, reduzir o risco fiscal exposto a um país, ter acesso a empresas líderes mundiais em inovação e tecnologia, investimento inicial baixo e facilidade de operação.

Por outro lado, não podemos nos esquecer de mencionar os riscos envolvidos nessa modalidade de investimento, como o risco cambial, pois a variação do dólar pode afetar o valor dos BDRs; o risco regulatório, já que as regras dos mercados estrangeiros podem mudar; o risco operacional, porque os custos e as taxas podem ser maiores; além de todo o risco que envolve a classe de qualquer ativo de renda variável. Podemos mencionar também o risco de liquidez, pois os BDRs têm menos negociações que as ações originais. A tributação também se apresenta como fator negativo devido aos tributos dos dividendos. Por isso, antes de investir em BDRs, é importante fazer como você que chegou ao fim deste artigo, pois conheceu bem o funcionamento desse tipo de ativo, suas características e riscos envolvidos. E, claro, não esqueça de avaliar se ele está alinhado ao perfil e aos objetivos do investidor.

Se você já está convencido de investir no exterior, saiba que os BDRs são os preferidos dos investidores, pois permitem ter exposição a diferentes países, moedas, setores e oportunidades de negócio com opções de investimento mais simples e acessíveis do que abrir uma conta em uma corretora estrangeira e enviar remessas internacionais.

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